Quinta, 31 Julho 2014 09:41

Quedas - Ação criminosa ameaça mata atlântica no Paraná

Sem a reintegração de posse das áreas da madeireira Araupel, no município de Quedas do Iguaçu, mais 33 mil hectares de área verde, utilizadas pela empresa como área de reflorestamento e APP (Área de Preservação Permanente), serão desmatadas para que o assentamento de três mil famílias de sem-terra, integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra) possa ser implantado. 

 

Porém, esta medida implicará ainda mais no desflorestamento da Mata Atlântica, que pode ser encontrada próxima ao município, principalmente nos locais em que ocorre a quarta invasão do MST.  

 

Se for registrada a permanência dos sem-terra neste espaço, além da Araupel encerrar suas atividades no município e comprometer mais de 40% da economia local, uma área significativa da Mata Atlântica será devastada. 

 

A Araupel tem a tutela da Reserva Particular do Patrimônio Natural – Corredor do Iguaçu – uma das maiores reservas do bioma de mata atlântica da região sul do Brasil, além de ser considerada uma floresta de alto valor de conservação, comprometendo-se a manter uma das últimas faixas contínuas de Mata Atlântica, desenvolvendo a proteção da fauna e flora locais, numa área de 5.151 hectares. Todo este espaço serve como abrigo para a grande biodiversidade da região, contendo espécies de animais em risco de extinção.  A reserva Particular também é responsável pelo ICMS ecológico dos municípios de Nova Laranjeiras e Rio Bonito do Iguaçu. Entretanto, com a cessão das terras produtivas e de APP aos sem-terra que permanecem acampados em um ponto estratégico, que atinge principalmente a matéria-prima da empresa, será praticamente impossível manter esses trabalhos, prejudicando a fauna e flora, gerando incontáveis prejuízos. 

 

DESMATAMENTO NO PARANÁ

 

Um levantamento feito pela Fundação SOS Mata Atlântica e o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) apontou que o estado do Paraná é o quarto no ranking das unidades federativas com maior área de desflorestamento. Ou seja, entre 2012 e 2013 – período do estudo das entidades – o Paraná teve uma perda de 2.126 hectares de floresta nativa. Em 2011, o total desmatado foi de 2.011 hectares. De um ano ao outro, segundo a SOS Mata Atlântica, o Estado suprimiu 6% de sua área verde. Os principais locais que registraram maior índice de desflorestamento se encontram na região centro-sul e em áreas em que podem ser encontradas araucárias. Os dados dão referência ao Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, levantados anualmente.  

 

Audiência com ouvidoria agrária será marcada

 

Ontem, uma reunião entre o Incra, o governo do Estado, Ministério Público, Polícia Militar e a diretoria da Araupel decidiu marcar uma audiência pública com a ouvidoria agrária nacional para a próxima semana. Ainda não há uma data definida. 

 

Segundo o assessor especial para Assuntos Fundiários do Paraná, Vitor Hugo Alves Seriguelli, o Incra não fará nenhuma movimentação enquanto as questões judiciais da empresa Araupel não forem finalizadas. “A única coisa que ficou acordada foi a realização da audiência”, relata. Ele ainda informou que a diretoria da empresa achou oportuna esta decisão para poder ter algum encaminhamento da situação. “Ficou bem exposto que a Araupel pretende resolver esta questão pacificamente”.  

 

Flagrante

 

Segundo a assessoria da Araupel, na terça-feira dois sem-terra foram presos em flagrante por estarem cortando e furtando madeira em APP (Área de Preservação Permanente). A Araupel, que voltou a trabalhar na área invadida sob escolta policial, já registrou boletim de ocorrência por ter constatado roubo de pinheiros reflorestados. Hoje segue manifestação dos colaboradores e da população de Quedas do Iguaçu contra a invasão nas terras da Araupel, na praça de pedágio da BR-277, em Nova Laranjeiras.

 

Dados nacionais apontam estados com maior incidência 

 

Conforme a SOS Mata Atlântica, entre 2012 e 2013 o desmatamento em todo o País atingiu 239 quilômetros quadrados, o equivalente a 23.948 hectares de remanescentes florestais nos 17 estados da Mata Atlântica. Em relação a 2011, quando foram registrados o desflorestamento de 21.977 hectares, houve um aumento de 9%. 

 

O estudo ainda registra que nos últimos 28 anos a Mata Atlântica foi suprimida em 1.850.896 hectares, uma área de mais de 18 mil quilômetros quadrados. Segundo dados do levantamento, este total corresponderia à área de 12 cidades de São Paulo. Atualmente restam apenas 8,5% de remanescentes florestais acima de 100 hectares, e todos os fragmentos de floresta nativa acima de 3 hectares, juntos contabilizam 12,5% dos 1,3 milhões de quilômetros quadrados anteriores. 

 

O líder em desmatamento no País é o estado de Minas Gerais, que pela quinta vez consecutiva ocupa o primeiro lugar no ranking. No levantamento, Minas contabilizou 8.437 hectares de áreas destruídas. E, segundo lugar está Piauí, com 6.633 hectares suprimidos, um aumento de 150% entre 2012 e 2013. Bahia ocupa o terceiro lugar, com 4.777 hectares de desflorestamento. Junto com o Paraná, os três estados são responsáveis por 92% do total de desmatamento da Mata Atlântica em todo o País, registrando 21.973 hectares em apenas um ano. 

 

As unidades federativas que diminuíram os registros de desmatamento foram Alagoas (-88%), Rio de Janeiro (-72%), São Paulo (-51%) e Espírito Santo (-43%). Minas Gerais também registrou uma diminuição no desmatamento de um ano a outro, entretanto ainda ocupa o primeiro lugar de florestas suprimidas. A queda foi de 22%. 

 

Desmatamento recorde no PR

 

Segundo outro levantamento feito pela SOS Mata Atlântica e o Inpe em 2001, o maior desmatamento em área verde do Brasil ocorreu entre 1997 e 2000. A área de assentamento negociada entre a Araupel e o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) nesse período, que abrigou 1.474 famílias, próximo a Rio Bonito do Iguaçu, representa 27% das florestas derrubadas no Paraná, um recorde na época. As famílias foram assentadas em duas áreas contíguas de 16.852 e 9.400 hectares. O Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica nunca havia registrado um desmatamento tão grande em áreas contíguas em todo o País. 

 

 

 

 

Com informações, O Paraná.

 

 

 

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